Brasiliense é quem menos caminha e pedala rumo ao trabalho
publicado em 6 de julho de 2016
O velho adágio de que Lúcio Costa projetou Brasília para um ser humano formado por cabeça tronco e rodas parece persistir no cotidiano da Capital Federal. O Distrito Federal é a região metropolitana do Brasil onde existe a menor frequência de deslocamentos a pé ou de bicicleta, tanto por homens, quanto por mulheres. Os dados são da pesquisa Diferenças socioeconômicas e regionais na prática do deslocamento ativo no Brasil, de autoria de Thiago Hérick de Sá, Rafael Henrique Moraes Pereira, Ana Clara Duran e Carlos Augusto Monteiro, recém-publicada na Revista de Saúde Pública, editada pela Universidade de São Paulo.
Com base nos dados coletados pela Pnad 2008, os pesquisadores avaliaram os hábitos de deslocamentos em dez de suas regiões metropolitanas (Belém; Belo Horizonte; Curitiba; Distrito Federal; Fortaleza; Porto Alegre; Recife; Rio de Janeiro; Salvador e São Paulo). Foram considerados fatores como perfil de renda, escolaridades, idade, sexo e local de trabalho- se área urbana ou rural.
A pesquisa revelou que o uso de bicicleta no Brasil é uma opção que se faz mais presente entre os mais pobres. “A depender da região metropolitana, a prática de deslocamento ativo entre os mais pobres é de duas a cinco vezes maior do que entre os mais ricos. Em ambos os sexos, esta proporção diminui com o aumento da renda e da escolaridade e é maior entre os mais jovens, entre os que residem em área rural e naqueles residentes na região Nordeste.”
“Quanto ao Distrito Federal – diz o trabalho científico -, na comparação com outras regiões metropolitanas, a menor proporção de deslocamento ativo tanto entre os mais ricos quanto entre os mais pobres em ambos os sexos parece ser reflexo da singularidade do planejamento urbano de Brasília – pautado no deslocamento por automóveis – e das longas distâncias que boa parte da população precisa percorrer entre as cidades-satélites e a capital, onde se concentra a maior parte dos empregos.”
Aproximadamente um terço dos homens e mulheres se desloca ativamente para o trabalho no Brasil, proporção similar àquela encontrada em países europeus, como França (34,9%) e Holanda (37,9%), e inferior à encontrada na China (46,1%).
No Brasil, o deslocamento ativo para o trabalho é mais frequente entre os homens em apenas algumas regiões metropolitanas (Recife, Belém e Fortaleza), na zona rural e entre os mais velhos (a partir dos 55 anos); sendo superior entre as mulheres nos estratos superiores de renda e escolaridade.
No Distrito Federal, cerca de 5%dos homens mais ricos usam a bicicleta ou se deslocam a pé para o trabalho, proporção que pula para 20%, quando são analisados os homens mais pobres. Dentre as mulheres, a proporção é de, aproximadamente, 3% para as mais ricas e de 17%,para as mais pobres. Entretanto, a Capital Federal é a região metropolitana pesquisada que apresenta a menor diferença entre pobres e ricos.
Fonte: Blog do Chico Sant´Anna