Agroecologia protege unidades de conservação do DF
publicado em 16 de março de 2017
A manutenção do equilíbrio ambiental deve ser premissa para os arredores das unidades de conservação. Essas faixas verdes no entorno das áreas de proteção, chamadas de zonas de amortecimento, são imprescindíveis para a proteção contra poluição de mananciais ou parcelamento irregular, por exemplo. Uma das formas de fortalecer esses espaços é incentivar a agroecologia nas propriedades nas imediações de reservas biológicas ou parques.
A dimensão das zonas de amortecimento é definida por meio dos planos de manejo de cada unidade de conservação. Os documentos listam atividades permitidas e impedidas, de acordo com as características e o nível de proteção do lugar. A regra geral, no entanto, é quanto mais harmônicas em relação ao meio ambiente forem as produções nas imediações das áreas protegidas, mais efetiva será a função de amortecimento das agressões.
Por abolir o uso de agrotóxicos e se basear em práticas sustentáveis, a agroecologia é uma forma de tornar produtivas e rentáveis as propriedades rurais no entorno dos espaços de proteção integral. O manejo da terra por meio dessa técnica estimula até mesmo a diversidade de espécies na região. “Criar ambientes diversos ao redor das unidades de conservação é estratégico, pois propicia maior fluxo genético”, explica o agente em unidades de conservação da Gerência de Manejo e Gestão de Áreas Protegidas, do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) Raoni Nazareth Costa.
A adoção de práticas agroecológicas nas zonas de amortecimento tem sido fomentada pelo órgão ambiental, mas ainda não é medida obrigatória aos produtores rurais. A proposta é melhorar o manejo das terras próximas a áreas protegidas. Assim, a inserção da técnica passa pela sensibilização dos agricultores em relação ao tema.
Um dos métodos para aproximá-los do tema é por meio de caravanas com produtores tradicionais a propriedades que já aplicam os princípios da agroecologia. “É bom porque eles mesmos repassam as experiências. É uma construção de conhecimento”, destaca Costa. A última caravana ocorreu em dezembro de 2016. Neste ano deverá haver uma nova edição.
Barreira à expansão desordenada da zona urbana – A agroecologia nas zonas de amortecimento funciona também como ferramenta para barrar o parcelamento irregular. “É uma maneira de garantir a permanência dos agricultores na terra e, assim, manter as zonas rurais”, afirma Costa. Dessa forma, a técnica também se torna uma alternativa à degradação ambiental.
Ao estruturar a produção de acordo com os princípios da agroecologia, a produtora Ivone Ribeiro Machado, de 58 anos, viu não só o negócio prosperar como também percebeu melhorias ambientais na região em que atua, na Zona de Produção do Parque Nacional de Brasília e da Reserva Biológica da Contagem, no Assentamento Chapadinha, no Lago Oeste. “Antes, aqui tinha lavoura de soja. Quando viemos para a área, não havia pássaro algum, nem pardal, que está acostumado com a cidade, vivia aqui”, conta.
Doze anos depois, pardais, canários, pica-paus e tucanos, entre outras aves, circulam pelos 10 hectares da propriedade de Ivone. A presença dos pássaros é uma evidência de recuperação da biodiversidade. “Onde tem agrotóxico, não tem por que as aves estarem. Não tem nada lá para elas”, explica o técnico do Ibram. Hoje, além de incrementar a fauna entre duas áreas de proteção integral, os pássaros se tornam polinizadores para os cultivos de verduras, hortaliças, ervas e frutas.
Situação semelhante ocorreu com as abelhas na propriedade de Ivone. “Depois que as mangagás (abelhas da espécie Hymenopera bombinae) voltaram, pude expandir a produção.” Ela começou a agrofloresta com cultivo de banana, maracujá e hortaliças. Agora, trabalha com repolho, rúcula, goiaba, tubérculos e ervas. Esse desempenho dá à produtora condições de atuar em feiras e ser fornecedora do restaurante do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural da regional DF.
A Zona de Proteção do Parque Nacional de Brasília e da Reserva Biológica da Contagem é uma área de 5 quilômetros de raio no entorno do Parque Nacional. Ela está na área de proteção ambiental (APA) do Planalto Central e tem 42.579 hectares. Nela, é proibido, por exemplo, plantar ou armazenar produtos transgênicos, conforme previsto no plano de manejo da unidade. Também é vetada qualquer atividade de mineração em uma faixa de 1 quilômetro do Parque Nacional ou da Reserva Biológica da Contagem.
Fonte: Agência Brasília