Moradia para 1,2 milhão
publicado em 24 de março de 2014
Governo anuncia regras de ocupação de três áreas no DF capazes de abrigar população seis vezes maior do que a do Plano Piloto. Os novos bairros serão instalados na região de Sobradinho, próximo ao Jardim Botânico e em Santa Maria.
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Três áreas ainda não habitadas no Distrito Federal tiveram as regras de ocupação definidas nesta semana. Os novos bairros que surgirão na região de Sobradinho, às margens da DF-140 e em Santa Maria terão capacidade para abrigar mais de 1,2 milhão de pessoas, seis vezes a população do Plano Piloto. As diretrizes urbanísticas que determinam o tipo de construção em cada terreno, além de delimitar espaços para parques, equipamentos públicos e rodovias, foram definidas e apresentadas pela Secretaria de Habitação, Regularização e Desenvolvimento Urbano (Sedhab).
Para o subsecretário de Planejamento Urbano da Secretaria de Habitação, Regularização e Desenvolvimento, Rômulo Andrade, as regras para os novos bairros vão além do direcionamento do crescimento da região e podem ajudar no processo de regularização dos parcelamentos já existentes. Ele explica que é uma nova forma de o governo trabalhar e pensar a cidade. “Isso faz com que essas grandes áreas se tornem ambientes urbanos com infraestrutura bem colocada.”
Segundo Andrade, o planejamento dessas áreas ajuda a minimizar os danos provocados pelo surgimento dos parcelamentos ilegais. “As diretrizes possibilitam a criação de centros comerciais e oportunidades de emprego. Isso é importante porque esses condomínios que existem hoje são completamente residenciais”, justificou. O subsecretário sugere que será possível criar polos de emprego e tirar a pressão da região central. “Criamos focos de desenvolvimento de uma cidade sustentável, que tem oportunidades de trabalho, renda e qualidade de vida e ambiental”, finalizou.
Os terrenos onde serão erguidos os novos bairros estão próximos a regiões já ocupadas por condomínios irregulares. Em Sobradinho, as novas regras urbanísticas valem para uma área de mais de 2,5 mil hectares. Desse total, 1,5 mil hectares pertencem à Urbanizadora Paranoazinho, sociedade anônima com capital de investidores privados. O grupo comprou a Fazenda Paranoazinho, parte da herança do latifundiário José Cândido de Souza, em 2007, por R$ 100 milhões, de olho nos 800 hectares livres de edificação. O restante está ocupado por 54 parcelamentos ilegais. A Agência de Desenvolvimento do DF também é dona de terrenos na região.
Longe da grilagem
A área em Sobradinho, que até hoje conseguiu se manter longe dos grileiros, poderá abrigar cerca de 280 mil pessoas. As diretrizes estabeleceram a construção de prédios de até 10 andares — dependendo do local, não pode passar de três ou seis pavimentos —, setores de comércio e de residência e parques recreativos e ecológicos. Além disso, foram previstas quatro áreas de centralidade, onde vão se concentrar as atividades comerciais e de convivência da população local. “Esse é o começo de uma transição da forma como o governo pensa em construir uma cidade”, avaliou o diretor presidente da Upsa, Ricardo Birmann.
Depois de estabelecidas as diretrizes, os donos dos lotes vão poder apresentar à Sedhab projetos de construção dos setores. Apesar de estarem previstos para ocupar áreas já bastante adensadas, Ricardo acredita que não haverá prejuízos para a região. “Proibir a ocupação não vai impedir o crescimento populacional. É possível até impactar postivivamente, porque vai desenvolver a região e dar mais autonomia em relação ao Plano Piloto, sem contar que vai integrar os condomínios existentes”, explicou.
O geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) Aldo Paviani faz ressalvas quanto à criação dos bairros. “A ideia seria agregar a cidade em vez de abrir mais espaços de povoamento. O padrão, até agora, é de fazer apenas habitações e não há a necessidade de criar espaços sem área correspondente para trabalhar. Isso vai demandar infraestrutura”, comentou. Paviani defende uma discussão mais ampla sobre os impactos dos novos setores. “Demanda mais estudo e responsabilidade dos administradores”, completou.
(Fonte: Correio Braziliense / Thaís Paranhos)